Sim o Empowerment, é nosso e de quem mais o quiser vivenciar connosco!

Querida mãe, com o desenrolar do nosso quotidiano, entre a multiplicidade de terapias adequadas e os primeiros sinais evidentes, tropecei num conceito, que há muito, o julgava “morto e enterrado”: O Empowerment.

A vida deu-me uma bofetada na cara, ainda hoje, sinto as marcas e o tlim do estalo no ouvido. Tenho como formação de base a área da Saúde Mental e da Psicologia Comunitária, e  sempre que surgia a temática:” Perturbações do Desenvolvimento Infantil” simplesmente evitava, desviava com toda a minha vontade e força. Mal eu sabia que esse assunto tão enigmático seria um dia algo com o que iria ter de lidar de perto.

Com o passar dos anos, afastei-me, genuinamente da minha formação base e do conceito que agora vos apresento que tão indispensável é para mim e para as minhas filhas. Quando numa longínqua aula no Instituto Superior de Psicologia Aplicada, há uns 20 anos atrás, ouvi pela primeira vez falar na Lei J F. Kennedy de 1963 acerca da Saúde Mental, e como a mesma contribuiu para as bases da Psicologia Comunitária e todas as suas repercussões que estão tão presentes no nosso quotidiano. Estava longe de imaginar, que um dia, eu faria de mim um “estandarte vivo” dessas mesmas repercussões. No meu combate diário, luto a favor da autonomia, inclusão e contra o estigma que as perturbações de Desenvolvimento acarretam, infelizmente.

Atualmente a minha premissa de vida é: “Vamos resgatar o empowerment para nós, mas acima de tudo para os nossos filhos que são especiais! “Apoiemos, acompanhemos, mas acima de tudo temos que lhes proporcionar autonomia (considero que para isso, trabalhamos todas), voz e poder sobre toda e qualquer situação da sua vida por mais, insignificante e banal que seja.

A minha Borboleta e a minha Coraçãozinho, à semelhança dos grupos etários em que se encontram já demonstram algumas escolhas, e eu apoio as suas tomadas de decisão, sempre que exequíveis. Uma das minhas crianças AINDA com uma perturbação acentuada da linguagem, ou seja, não fala, mas comunica de alguma forma. Assim, manifesta a sua vontade que sempre que possível, em ambos os casos são respeitados e incentivados.

Já demonstram predileção por cores, uma prefere saias a outra prefere calças, uma prefere praticar artes marciais, e a outra mostra-se encantada só com o vislumbre do parque de estacionamento do clube de natação. Uma prefere tomar o pequeno-almoço já vestida e arranjada, já a outra sente-se mais confortável em fazê-lo após a primeira refeição do dia.  Trata-se de pequenos exemplos, repletos de tomadas de decisões da parte delas e que a mim muito me orgulham!

Passada a fase do diagnóstico, no meu caso, diagnósticos…  chega a fase da adaptação, cada uma à sua maneira, a esta nova realidade que implica uma reorganização, nossa a vários níveis eu decidi incluir a filosofia Empowerment para cada um deles! Do fundo do coração não me arrependo e hoje torna-se tudo muito mais leve, por isso faço do Empowerment um dos meus pilares! 🙂

A forma como nós mães, criamos as nossas regras, rotinas e acima de tudo nos reorganizamos é fulcral para o desenvolvimento das nossas crianças, dado o conjunto de especificidades de cada uma das suas perturbações. Embora do fundo do coração partilho convosco, torna-se muito mais fácil, se em pequeninos gestos, por mais insignificantes que sejam, os incluirmos na tomada de decisão das nossas crianças.

A mim soube-me a vitória, aquando na semana passada, dei com a minha filha autista de 4 anos, em casa, a abrir uma garrafa de água de 1.5l e a beber pelo gargalo. Que se lixe ser pelo gargalo! Para já a minha borboleta não mostra vontade de beber água pelo copo, mas neste momento, a vitória é ela beber água sozinha pelo copo… lá chegaremos, um dia, com o tempo!

Por fim, mas não naturalmente, estaremos sempre ao lado dos nossos filhos, apoiaremos, lutaremos contra o preconceito e discriminação, e acima de tudo amaremos de forma incondicional e absoluta. Mas nunca nos esquecendo que eles próprios, por mais pequenos ou grandes que sejam, independentemente de serem ou não especiais, devem participar ativamente nas decisões da sua própria vida.

1 Xi coração Pipe.