Cara leitora (o)
O significado de odisseia enquanto viagem cheia de peripécias e aventuras é o que melhor espelha a nossa vida, desde o nascimento da Coraçãozinho à desconfiança do diagnóstico, até ao presente. 100 % convicta, que se pudesse escolher, entre a coraçãozinho nascer ou não, a minha resposta seria SIM ela nasceria, reafirmo com todo o meu coração, a minha filha é doce, bela e genuína, como o verdadeiro amor.
Cada criança diagnosticada com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), manifesta diferentes formas de comunicar e várias metodologias de como o fazer. A nós mães cabe-nos ouvir a voz do nosso coração com leveza, aceitação, somente assim poderemos compreender e ajudar as nossas crianças (o que nem sempre foi fácil, falo no meu caso em particular).
A minha coraçãozinho não conseguia exprimir-se, a sua interação social era quase nula, uma timidez exacerbada, contacto visual dificílimo e aborrecia-se com o contacto físico. Entre crises de ansiedade e tristeza absolutas da minha parte, marcou-me o facto de nunca gostar de colo em bebé, sempre que a retirava do berço chorava imenso, por mais tentativas de doce embalo que fizesse… (à parte dos apartes… sabem quantas vezes fui ao psiquiatra por isto e tudo o resto?? Perdi a conta… mas hoje afirmo, ainda bem que fui!)
Com o passar da idade, com a intervenção terapêutica (ambas) melhoramos. Hoje em dia é tudo vivido de forma muito leve. No que toca à minha filha, não posso deixar de referir que a apraxia da fala ainda está presente. Ambas, tal mãe, tal filha nascemos a aprender com os embates da vida. Assumi para comigo, como missão de vida, tudo fazer em relação à o Coraçãozinho e à causa do apoio às mães de Crianças com Perturbações do Desenvolvimento Infantil, a minha filha por sua vez, faz muito bem a parte dela, com um esforço notável em toda a sua intervenção.
Como não poderia deixar de ser além das sessões de terapia, assumi-me como co- terapeuta, trouxe para as nossas sessões caseiras, brincadeiras e atividades lúdicas de estimulação, a minha criança necessita de se sentir confortável para se expressar, cabe-me a mim enquanto mãe, encontrar esse conforto e num piscar de olhos tudo acontece…
Como não poderia deixar de ser, aliei-me à tecnologia, fomos afortunadas em participar numa investigação do Instituto Politécnico de Setúbal. Cá por casa embalada pela tecnologia, deixo a dica :” vale a pena experimentar os dispositivos na área da robótica muito acessíveis na Toys Ur Us, aplicativos com imagens e sons no telemóvel.”
A estratégia traçada ao longo destes anos, entre os profissionais e nós mesmos, levou a uma mudança extrema, hoje temos uma Coraçãozinho muitíssimo diferente, à parte ( da ainda) questão da linguagem ,eu própria tenho que me esforçar muito mas muito, para encontrar qualquer característica mais expressiva do TEA.
Por fim, mas não naturalmente, deixo aqui dois Xi Corações a todas as mães e coraçõezinhos deste mundo, esta é a nossa história mas poderia muito bem ser a vossa história.
Nota: partilho exercícios de estimulação da linguagem gratuitamente, basta para isso enviarem e-mail.