Como se diz na gíria popular, depois da tempestade vem sempre a bonança, ou talvez não! A tranquilidade não vem, a tempestade chegou, instalou-se e optou por ficar. Infelizmente, à data de escrita deste artigo, descrevo os meses de Janeiro e Fevereiro de 2022, como dolorosos e cruéis , onde foi posto à prova o meu coração que acabou dizimado. Pois a minha filha esteve hospitalizada e um irmão meu morreu.
Comecemos pelo início, a minha coraçãozinho esteve bastante doente. Tudo afigurava um final de uma 6ªf habitual, aquele dia que apreciamos, um dos dias mais prazerosos da semana. Após voltas à cabeça para decidir o que fazer no fim-de semana, os planos transformaram-se num tormento. A Coraçãozinho, asmática, dá entrada no serviço de urgência com baixa oxigenação e um diagnóstico de pneumonia. O pior em relação a isso já passou, Graças a Deus passou, foram quinze dias de angústia. Nesses momentos, passou-me pela cabeça como é bom termos a nossa família, amigos que nos amam ao nosso lado.
Todavia, a procissão ainda ia no adro…
A vida é um tempo sem relógio e sem manual de instruções, iniciamos o dia a trilhar um caminho, planificamos ao segundo, e num piscar de olhos sem tempo de pestanejar, encontramo-nos num outro trilho, da qual a entrada, intrinsecamente nos arrepia, pois encontramo-nos perante a morte. A morte de uma pessoa, caridosa, altruísta, alegre, um irmão que qualquer pessoa do mundo gostaria de ter tido o privilégio de ter.
Embora as vicissitudes da vida nos tenham afastado, a ambos durante algum tempo, sim a nossa história de família, sempre foi muito peculiar, sempre soubemos que um dia nos iríamos reencontrar. Deus permitiu-nos ao longo dos últimos anos, em especial em 2021, percorrer um caminho, passar tempo juntos, com convivência e amizade verdadeira. Conversamos longas horas sobre o curso da nossa vida, sobre os nossos filhos, passeamos de descapotável, com cabelos ao vento, sorrimos e estivemos juntos, apesar de todas as adversidades.
Recordo com exatidão o nosso último churrasco (o aniversário da Borboleta) ,a nossa última “ bebedeira” ( no bom sentido), os teus agradáveis amigos que apresentaste ( que agora se tornaram meus bons amigos também), os nossos finais de tarde no nosso jardim, o nosso último jantar à volta do tacho de comida verdadeiramente portuguesa ( o arroz de polvo soltinho que tanto apreciamos).
Como sempre disse neste espaço, privei na minha vida com pessoas singulares, tu eras uma delas. Hoje quando vagueava pelo “teu” quarto, deparei-me com as tuas roupas, que com um sorriso genuinamente bem-disposto, me pediste para guardar, enquanto foste ali numa viagenzita ao Rio de Janeiro, as lágrimas correram… e depois veio a lembrança do nosso último abraço, estou quebrada, mas é preciso ir buscar forças onde elas não existem e continuar… O teu sobrinho Afonso, todos os dias conta as tuas piadas…
Repara eu não tenho palavras, estou petrificada, desfeita, arrependo-me no dia anterior à tua morte, ter feito a “cama de lavado” ( expressão tipicamente portuguesa) , meditando o teu regresso e da minha querida Te ( que eu sempre admirei e amei, como se fosse sangue do meu sangue). Eu juro que não sabia, por que soubesse, teria mantido tudo tal e qual deixaste, pois teríamos o teu cheiro, junto a nós, nesta parte da “família” mais louca que a vida te poderia arranjar que tanto te ama (eu e os meninos). Da tua presença, nada é preciso dizer pois esta continua inconfundivelmente na nossa mente e coração.
Por fim, mas não naturalmente, quero dizer-te, obrigada, por teres feito parte da minha vida, ou melhor das nossas vidas, estive e estarei sempre aqui, agora com a tarefa assídua e presente, de ver a nossa menina florescer pela vida fora e cuidar da nossa Te.
Este texto, como não poderia deixar de ser, foi escrito com o Afonso, que tanto te adora…
De mim, de nós, para ti…um até sempre Gustavo Jorge!
Pipe e Afonso…