Artigo de Opinião

 2 Abril Dia Mundial de Consciencialização do Autismo

Quando decidimos enxergar banalidades e não habilidades?

Hoje comemoramos o dia Mundial da Consciencialização do Autismo, mas seria realmente necessário assinalarmos a existência deste dia? Não serão todos os dias da nossa vida, em que nós seres humanos temos a missão de consciencializarmo-nos que “a pessoa Autista é um Ser Humano como os outros”? São pessoas admiráveis, genuínas, que veem, sentem, amam, percecionam o mundo de forma diferente das outras e por essa razão, necessitam de todo o nosso respeito, empatia, compreensão e auxílio. Não é um dia para celebrar, é para consciencializar aqueles que simplesmente por vicissitudes da vida, ou naturalmente, porque não , têm consciência disso!

Todo os nossos dias têm um propósito, devemos ter o discernimento de não magoar e compreender o outro, amar em vez de odiar, incluir em vez de discriminar e criticar. Devemos pautar, cada minuto e cada segundo da nossa existência.

Infelizmente, verifica-se a necessidade de assinalarmos este dia a nível mundial, porque será? E se ano após ano, nos comportássemos um pouco menos inadequadamente perante milhões de pessoas autistas em todo o mundo? Sem dúvida, que teríamos uma sociedade melhor, onde os valores da equidade e do respeito humano seriam tão naturais e inabaláveis como quaisquer alicerces que fundamentem a própria existência humana. Provavelmente, eu como mãe não estaria aqui.

Poderia falar-vos de estatísticas, número estimado de pessoas diagnosticadas como pertencentes ao Espectro Autista (e olhem que tive como professor o melhor em estatística de Portugal, que muito admiro!). Todavia estatísticas são números, mas estes falam-nos de seres humanos, com alma e coração, a minha filha, a sua filha, o seu filho, são seres humanos que merecem ser compreendidos, beneficiar de educação gratuita e universal, direito aos seus cuidados de saúde, direito a serem amados e respeitados.

Uma das nossas principais questões, enquanto sociedade, parcialmente enviesada, por pseudovalores, é enxergar as banalidades e não as habilidades. Por exemplo, sou mãe de três crianças extraordinárias. A vida surpreendeu-me com dois diagnósticos “difíceis”: Hiperatividade e Deficit de Atenção e Transtorno do Espetro Autista.

Se me questionarem se o meu quotidiano é de aprendizagem, superação e adaptação? A resposta é sim!

Mas ao mesmo tempo se me questionam se as minhas crianças com diagnósticos “ especiais” possuem habilidades? A resposta é clara e inequivocamente que sim! Possuem muitas, dezenas delas! São crianças, absolutamente adoráveis, integradas, repletas de capacidades e habilidades. Assim, é necessário estarmos dispostos a querer apreciá-las e aceitá-las. Contudo é tão cómodo dizer para nós mesmos, enquanto pais: “Ah, o meu filho e tal, está tudo bem, wow! Wow! Wow!  “. Um bom comportamento e boas notas são os objetivos de muitos pais para com os seus filhos, por mim falo, pois tenho um filho que se enquadra dentro dos parâmetros considerados “banais” para a sociedade.  Portanto, o que no mais íntimo do nosso coração enquanto pais, tentamos nos convencer é que termos pouco ou nenhum trabalho, é fácil e cómodo para nós e queremos que assim se mantenha.

Sabemos que as nossas crianças “especiais”, irão requerer um pouco mais de atenção, preocupação, isso ninguém põe em causa. Mas para isso estamos cá nós, o sangue corre-nos nas veias e queremos evidentemente que as nossas crianças cheguem onde querem realmente chegar, e que acima de tudo sejam compreendidas, respeitadas, amadas e muito felizes!

Derrubar preconceitos e mudar mentalidades, torna-se urgente, é fundamental que façamos o nosso papel, e que todos os dias das nossas vidas sirvam para consciencializar os que estão à nossa volta.

Por fim, mas não espontaneamente, se me questionarem se voltaria a repetir a experiência da maternidade, sabendo dos meus dois diagnósticos “especiais”? A resposta, é claramente sim, porque o Amor pelas minhas filhas é incomensurável, independentemente dos seus diagnósticos e todos os obstáculos e barreiras que diariamente ultrapassamos!

O testemunho de uma mãe,

Pipe.

Ps- Curiosamente, neste Dia Mundial de Consciencialização do Autismo, escrevi o meu primeiro artigo no BLOGUE.