Quando, em setembro de 2005, ingressei na Faculdade de Motricidade Humana no curso de Educação Especial e Reabilitação, tinha a certeza de que estava no local certo e no curso certo, mas não tinha a mínima ideia de que áreas mais gostava… À medida que o curso avançava, e principalmente depois de ter a disciplina de Intervenção Precoce (IP), o gosto foi crescendo e cada vez tinha mais certeza de que era com os mais pequenos e com a individualidade de cada um e das suas famílias que eu queria trabalhar. Seguindo este gosto, que se tornou gradualmente uma paixão, fui moldando a minha formação académica e contínua para esta área, especializando-me o mais possível na Intervenção Precoce.

Na realidade do meu quotidiano, em qualquer situação de Perturbação do Neurodesenvolvimento, cada caso é singular e o seu diagnóstico é apenas uma pequena parte da caracterização daquela criança. É crucial conhecer as suas dificuldades e potencialidades em todas as áreas do seu neurodesenvolvimento e comportamento, partindo do seu perfil único para a planificação da intervenção a realizar. Em IP, a individualidade de cada bebé/criança tem de ser entendida dentro da sua família que, tal como um ecossistema, é recheado de equilíbrios e simbioses que, frequentemente, têm tanto de resiliência como de vulnerabilidade. A participação da família na construção do perfil de neurodesenvolvimento e comportamento da criança é fundamental e o plano de intervenção é uma ferramenta criada para a realidade daquela família, sendo dinâmico e  continuamente revisitado e adaptado.

Em IP, há colchões e brinquedos pelo chão, birras e choro, baba e ranhocas, mas há toda uma dinâmica que não se encontra, na minha opinião, em mais nenhuma área: há uma relação privilegiada entre nós e a criança/família, com direito a lugar na fila da frente para assistir a todas as descobertas e conquistas que ambas vão fazendo.

Em IP, é graças a uma plasticidade neural que tudo acontece, entre janelas de oportunidade e conquistas que vão surgindo e complexificando como numa grande escadaria. São degraus que se vai ajudando a subir, umas vezes “puxando” a partir do degrau acima, utilizando as potencialidades da criança a favor de novas aquisições; outras “empurrando” a partir do degrau abaixo, tentando insistir nas vulnerabilidades; e outras vezes, tão importantes como as anteriores, esperando a altura certa, sentando-nos no degrau lado a lado com a criança e a sua família.

É em Intervenção Precoce, com as famílias que me deixam fazer parte dos seus percursos, que mais aprendo e me sinto mais realizada profissionalmente!

Obrigada a todas as famílias que me deram, dão e darão a honra e o privilégio de as acompanhar!